A
pior seca dos últimos 30 anos já atinge dez milhões de pessoas em 1.317
municípios brasileiros. Os estados mais atingidos pela estiagem são
Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, mas há cidades em
situação de emergência em todo o Nordeste, segundo o Ministério da
Integração Nacional. E o panorama deve piorar. A expectativa é que só
volte a chover na maior parte da região em janeiro. Dos cinco estados
mais afetados, apenas a Bahia registrou chuvas em novembro.
Na
semana passada, o governo federal anunciou o envio de R$ 1,8 bilhão para
a construção e ampliação de barragens, adutoras e sistemas de
abastecimento que devem aumentar a oferta de água no Nordeste e no norte
de Minas Gerais nos próximos anos. As primeiras obras serão entregues
apenas no final do primeiro semestre de 2014, segundo o Ministério da
Integração
Ainda assim, o drama da seca deve continuar. O
principal programa de irrigação da região, por exemplo, só deve ter sua
expansão concluída em 2017, segundo estimativa do diretor de produção do
Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Laucimar
Loyola.
Este ano, emergencialmente, a União destinou R$ 232,6
milhões para bolsa-estiagem; R$ 15 milhões para recuperação de poços; e
outros R$ 310 milhões para envio de carros-pipa a fim de atenuar os
efeitos da estiagem, que já dura um ano em alguns lugares.
Lavouras perdidas
O
Piauí é um dos estados mais atingidos. A seca castiga 200 dos 224
municípios do estado. Um terço da população — mais de um milhão de
pessoas — sofre com as consequências da falta de chuvas. Segundo o
secretário estadual de Defesa Civil, Ubiraci Carvalho, no semiárido não
existe registro de chuva há um ano, e os agricultores perderam 100% das
lavouras de feijão, arroz e milho:
— A população está sem água
para os animais, e agora o governo teve que prolongar por mais dois
meses o seguro-safra, que paga R$ 636, durante seis meses, aos
agricultores que perderam toda a sua plantação.
Em Alagoas, a
falta de água atinge até os mais ricos: os usineiros. De acordo com o
Sindicato dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado (Sindaçúcar), o
terceiro mês de safra acumula uma queda de 5% da produção. Levantamento
do sindicato aponta redução na safra de cana-de-açúcar pelo terceiro mês
consecutivo. As perdas são de 15%, em relação ao mesmo período do ano
passado. Os prejuízos, nas contas do Sindaçúcar, estão entre R$ 480
milhões e R$ 600 milhões.
De setembro a outubro, foram produzidas
pelas unidades produtoras alagoanas 470 mil toneladas de açúcar e
93.916 milhões de litros de etanol. Os números apresentados representam
uma redução em comparação a safra 11/12 de, respectivamente, -17,54% e
-31%, disse o sindicato, em nota.
De acordo com o professor de
Economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Cícero Péricles,
apesar de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontar que
a seca do Nordeste é a pior dos últimos 50 anos, as obras hidráulicas
estão impedindo dois cenários conhecidos: a migração de nordestinos e as
frentes de trabalho, para escapar dos efeitos da estiagem:
— A
agricultura do sertão nordestino tem uma particularidade. Mesmo em anos
chuvosos, trabalha a maior parte do tempo em clima seco, o que determina
a necessidade de tecnologias hidráulicas, principalmente, para atender
essa população. Na agricultura familiar, temos a cisterna, sistemas de
irrigação particulares e a oferta pública de água, como adutoras,
canais, barragens subterrâneas. Isso faz com que, em secas como esta, os
efeitos sejam minimizados.
Mais da metade das cidades baianas
também está em situação de emergência, e quase três milhões de pessoas
já foram afetadas. O setor da agropecuária é o que mais enfrenta
prejuízos. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária (Faeb),
culturas como milho, feijão e mamona tiveram perda total da safra, e 60%
dos rebanhos de caprinos e ovinos morreram. Na região produtora do
sisal, que envolve cidades como Barra do Choça e Araci, 15 mil postos de
trabalho foram fechados.
O governo de Pernambuco classificou a
seca como a pior dos últimos 40 anos. Segundo a Coordenadoria de Defesa
Civil (Codecipe), 125 das 184 cidades pernambucanas decretaram situação
de emergência, sendo 117 reconhecidas pelo governo federal.
—
Esta época do ano, era para a gente estar pisando nos cajus — lamenta o
produtor João Alves de Lima, que tem uma plantação de dez hectares no
sertão pernambucano que, nas safras passadas, chegou a contabilizar duas
toneladas da fruta. Este ano, ele não sabe se conseguirá colher dez
quilos de caju.
Fonte: O Globo
*Colaboraram Efrem Ribeiro, Gabriela López e Odilon Rios
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário